Ligamento cruzado anterior:
Apesar de haver profissionais que indicam a cadeira extensora e/ou condenam
a utilização de agachamento para preservação do ligamento cruzado anterior
(LCA), a literatura científica nos indica claramente que o agachamento é um dos
exercícios mais indicados nesse caso (More et al., 1993; Yack et al., 1993).
Inclusive, estudos anteriores sugerem que ele não apenas é mais seguro que a
mesa extensora (Toutoungi et al., 2000; Kvist & Gillquist, 2001), como é
mais seguro até mesmo que a caminhada (Escamilla, 2001).
Em 1993, Yack et al. concluíram que o agachamento minimiza a tendência de
deslocamento anterior da tíbia em comparação com a mesa extensora, sendo,
portanto, mais indicado para reabilitação de LCA (Yack et al., 1993). More et
al. (1993) corroboram com essa afirmação, ao concluir que os isquiostibiais
atuam sinergisticamente com o ligamento cruzado anterior na estabilização
anterior do joelho durante a realização do agachamento, o que levou os autores
a considerarem esse exercício útil na reabilitação de lesões no LCA. Achados
similares foram obtidos por Kvist & Gillquist (2001), em um estudo no qual
se verificou que a vantagem do agachamento em relação a mesa extensora é ainda
mais evidente em pessoas com histórico de lesões no LCA do quem em pessoas
saudáveis.
A segurança do agachamento é clara não apenas na comparação com a mesa
extensora, mas também com atividades consideradas inofensivas. Em um estudo de
1985, publicado por Henning et al. foi verificado que a tensão no LCA teve a
seguinte sequência, do maior para o menor: corrida em declive > mesa
extensora > corrida na reta > caminhada em terreno plano > agachamento
com uma perna só (Henning et al., 1985). Aliás, o agachamento unilateral
realizado sem carga produz uma tensão de LCA menor que o próprio teste de
Lachman, utilizado pelos médicos para avaliar a integridade do ligamento. Portanto,
se uma pessoa consegue andar ou pelo menos consegue sobreviver ao exame médico,
pode-se supor que ela também esteja apta a fazer agachamentos.
Com relação à amplitude de movimento, deve-se destacar que, quanto maior a
amplitude, ou seja, quanto mais profundo é o agachamento, menor será a tensão
no LCA (Beynnon & Fleming; Zheng et al., 1998; Li et al., 1999). Portanto,
não só a utilização agachamentos é segura, mas sim a utilização do agachamento
profundo!
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Durante o agachamento, a tensão no ligamento cruzado anterior só é
significativa entre 0 e 60° de flexão, sendo que seu pico mal atinge ¼ da
capacidade deste ligamento em resistir a tensão (+/- 2000 N), mesmo com cargas
superiores a 200 quilos (Nisell & Ekholm, 1986).
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Ligamento cruzado posterior:
Conforme a amplitude do agachamento aumenta, a tensão diminui no LCA e
aumenta no ligamento cruzado posterior (LCP), como nos mostram estudos
anteriores (Zheng et al., 1998; Escamilla et al., 2001). Portanto, pode-se
questionar se os agachamentos seriam seguros para o LCP. Em um estudo sobre o
tema, MacLean et al. (1999) analisaram dois grupos: um composto por indivíduos
sedentários saudáveis, e outro por atletas lesionados no LCP. O objetivo foi
verificar se um treino de agachamentos seria eficaz na melhora da função, ganho
de força e sintomatologia (no caso dos indivíduos com lesão). Depois de 12
semanas, observou-se aumento de funcionalidade no grupo lesionado e se conclui
que o treinamento com agachamentos é viável para reabilitar insuficiências
crônicas do ligamento cruzado posterior.
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Dificilmente será imposta ao ligamento cruzado posterior uma tensão maior que
sua capacidade, tendo em vista que mesmo ao realizar agachamentos profundos com
mais de 380 quilos, não se chega nem a 50% de sua capacidade de suportar tensão
(Race & Amis, 1994).
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Patela:
Anteriormente, já foi falado bastante sobre o fato do agachamento produzir
baixos valores de compressão patelofemoral. Inclusive a compressão promovida
pelo agachamento, leg press e mesa extensora não diferem entre si (Wilk et al.,
1996; Zheng et al., 1998). Mas, é importante destacar que a ativação da
musculatura posterior e o aumento da amplitude de movimento diminuem a compressão
patelofemoral. Por exemplo, Li et al. (1999) verificaram que a maior compressão
acontecia entre 0 e 30 graus, com posterior decréscimo.
Com relação aos efeitos crônicos, o grupo de Witvrouw comparou a eficiência
dos exercícios de cadeia cinética fechada (agachamento) com os de cadeia
cinética aberta (extensora de perna) no tratamento de dores patelofemorais e
verificaram que, apesar de ambos os protocolos serem eficientes, os melhores
resultados foram proporcionados pelos exercícios de cadeia cinética fechada
(Witvrouw et al., 2000; Witvrouw et al., 2004).
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A tração do tendão patelar chega a 6000N em 130° de flexão de joelhos com um
agachamento de 250 quilos (Nisell & Ekholm, 1986), cerca de 50% do valor
máximo estimado para esta estrutura, que varia de 10000 a 15000 N (Escamilla,
2001).
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Compressão entre fêmur e tíbia
As forças compressivas tibiofemorais foram discutidas anteriormente. Cabe
lembrar que elas chegam próximas a 8000 N durante o agachamento com cargas
elevadas (250 a 382,50 kg), sendo praticamente a mesma nos ângulos entre 60 a
130 de flexão de joelhos (Nisell & Ekholm, 1986), porém ainda não foi
estudado um valor limite. Deve-se lembrar, no entanto, que da mesma forma que a
compressão tibiofemoral excessiva pode ser lesiva para meniscos e cartilagens,
elas têm um papel importante na estabilidade dos joelhos (Markolf et al., 1981;
Shoemaker & Markolf, 1985; Nisell & Ekholm, 1986; Yack et al., 1994).
Considerações finais:
- As forças tensionais e compressivas desse tipo de exercício estão
totalmente dentro de nossas capacidades fisiológicas e articulares. Certamente
as estruturas ósseas e articulares estarão preparadas para realizar
agachamentos completos durante toda a vida, desde que sejam respeitados os
fundamentos científicos que norteiam o treinamento de força, com ênfase na
técnica de execução e controle de volume.
- Para realização do movimento completo, é inevitável que se utilize uma menor
quantidade de peso (carga absoluta) o que, somado à menor tensão nas estruturas
do joelho, torna esse exercício seguro para a imensa maioria dos praticantes de
musculação, mesmo os lesionados e/ou em reabilitação. Em casos de lesões, o
ideal é fazer um tratamento no qual profissionais de ortopedia, fisioterapia e
educação física trabalhem juntos.
- A amplitude do agachamento é muito importante para eficiência e segurança,
pois conforme se aumenta a flexão do joelho (“profundidade”), aumentam as ações
musculares e diminui a tensão nas estruturas articulares.
- A ação muscular é importante para o controle do movimento, portanto, não se
deve deixar que, durante a fase excêntrica (principalmente quando o ângulo
começa a ficar menor que 90 graus), o movimento perca o controle (“despencar”),
pois, desta forma, as tensões que deveriam estar sobre a musculatura, irão se
incidir nas estruturas articulares (Escamilla, 2001).
- O aumento no torque, tensão e força não significa que este exercício
necessariamente seja perigoso ao joelho, mas sim, que esses parâmetros aumentaram,
e só. As análises feitas com agachamentos profundos, pelo que consta, não
demonstram nenhum prejuízo para o joelho. As lesões geralmente são causadas
pela combinação de quatro variáveis: volumes altos, excesso de peso,
overtraining e técnica inapropriada. Com treinos progressivos e inteligentes, o
agachamento profundo certamente é seguro e eficiente.
O agachamento, quando executado de maneira correta, e com a supervisão apropriada de um profissional de educação física são, não apenas seguros, mas agentes preventores de lesões na articulação do joelho. Estudos recentes mostram que o agachamento melhora a estabilidade do joelho, se executado de maneira adequada.
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