Treinar em cima da bola ou do bosu traz resultados
interessantes, mas não para a força muscular, segundo o professor Júlio Serrão.
Segue abaixo a interessante matéria do UOL sobre o tema.
A instabilidade tem sido vista como a grande arma
dos treinamentos modernos para aumentar o recrutamento da musculatura. Com
isso, os treinos passaram cada vez mais a contar com suportes instáveis como
bolas, bosu (meia bola com uma superfície reta de um dos lados), plataformas de
instabilidade, discbol etc. Entretanto, o professor Júlio Serrão, do laboratório
de biomecânica da Universidade de São Paulo, diz que este tipo de treino dá um
pequeno ganho de força para indivíduos destreinados, mas não é eficiente para
aqueles que já treinaram força.
Há a melhora da força do core, conjunto de
músculos do centro do corpo, o tórax, como os músculos do abdome e
sustentadores da coluna vertebral, mas, segundo o professor, o que causa um
maior ganho muscular é a combinação de estímulos diferentes, e aí entra também
o treinamento funcional.
A principal vantagem dos treinamentos com base na
instabilidade é o ganho de propriocepção, que ocorre mesmo em atletas. A
propriocepção é a capacidade de percepção do próprio corpo e correção
automática de movimentos indesejados. Por exemplo, quando você quase torce o
pé, seu músculo faz força para voltar para a posição normal, mesmo sem que você
tenha tempo de pensar no que deve fazer, isso é propriocepção. O treinamento
desta capacidade é essencial para todos no seu dia a dia e primordial para
atletas, que para conseguirem efeitos precisam de treinos com desequilíbrios
maiores.
A musculatura do abdome e das costas tem função de
estabilizar o corpo, por isso ela é mais sensível ao treinamento com
instabilidade como o pilates e o treino funcional. Ao se incluir componentes de
instabilidade é possível aumentar o recrutamento dessas musculaturas
estabilizadoras, mas o mesmo não ocorre com os grupos musculares que não tem
essa função.
Como exemplificou o professor Serrão em sua
palestra durante a IHRSA – encontro de negócios e bem estar em fitness -, ao
treinar o bíceps – músculo do braço – em cima de uma bola suíça, a
instabilidade não vai aumentar o trabalho do bíceps, que teoricamente é o
músculo que buscamos treinar, ela apenas vai gerar mais trabalho da musculatura
postural (em especial abdome e costas).
Apesar do professor destacar que existem poucos
estudos bem organizados sobre treinamento funcional e pilates, ele apresentou
alguns dados que mostram que os efeitos da instabilidade se restringem aos
músculos estabilizadores.
Exercícios abdominais feitos sobre uma bola suiça
mostram resultados melhores que os feitos numa estrutura lisa, pois a
musculatura abdominal é estabilizadora e, ao trabalhar em uma superfície de
desequilíbrio, precisa trabalhar mais para fazer o mesmo movimento.
A musculação feita com os aparelhos tradicionais
restringe a instabilidade para permitir uma maior carga de trabalho, fortalece
os músculos, mas não causa benefícios nos músculos estabilizadores e na
propriocepção. Ele é ideal para trabalhos com iniciantes que precisam aprender
os movimentos e fortalecer a musculatura.
Já o treino com pesos livres, como anilhas e
halteres, permite uma maior instabilidade, com um trabalho considerável de
costas e abdome para estabilizar certos movimentos, o que muitas vezes não
permite pesos tão altos quanto o dos aparelhos. Já os treinos funcionais pregam
maior instabilidade, privilegiando a musculatura estabilizadora.
Segundo o professor Serrão, o esforço de abdome e
costas em movimentos com peso livre como agachamento, stiff e agachamento terra
já provoca um grande trabalho da musculatura do core e ajuda na propriocepção
sem a necessidade de mais instabilidade. Uma das pesquisas apresentadas pelo
professor em sua palestra mostra que o agachamento feito com ou sem instabilidade
tem o mesmo efeito na força da perna, com um trabalho um pouco maior da
musculatura da coluna. Más é difícil fazer o agachamento no bosu, por exemplo,
com a mesma carga que em uma superfície estável.
O professor completou a palestra dizendo que não há
exercícios bons ou ruins, o professor que deve prescrever o exercício adequado
aos objetivos do aluno.
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